sábado, novembro 01, 2003

Bactéria Blog


Luz mais rápida que a própria luz

Ainda na sequência do espanto científico, referido no post anterior, deparei-me com uma situação que é, no mínimo, de dar um nó na cabeça. Talvez me dê o dito nó pelo simples facto de eu não saber explicar minimamente a situação. A meu ver, tem todos os ingredientes para ser um paradoxo. No entanto, não o é. Porque não é, é que eu não sei.

Os cientistas têm andado a brincar já há alguns anos com um efeito chamado de superluminal, ou seja, estamos perante situações em que um feixe de luz, quando atravessa um dado ambiente, se desloca a uma velocidade superior à da luz no vácuo. O que isto provoca é uma coisa estranhíssima. A luz parece sair da célula contendo o tal ambiente, ainda antes de ter entrado. Aliás, esse é exactamente o grande problema com o ultrapassar a velocidade da luz. É que, caso isso seja permitido, um efeito pode surgir ainda antes da sua causa. Basicamente é o que temos aqui, a luz sai antes de ter entrado. Einstein falou exactamente nisto quando referiu o cone temporal de acontecimentos futuros, definindo um cone, com vértice no momento actual, e dentro do qual todos os acontecimentos podem acontecer no futuro, mas fora do qual nenhum efeito se pode encontrar. Isto é, se nada pode andar mais rápido que a velocidade da luz, então, quando o tempo passa, um ponto do espaço que se encontre a uma distância tal que a luz não tenha tido tempo para lá chegar, não poderá ser afectado pelo ponto inicial, logo, estará fora desse tal cone de acontecimentos futuros. Acontece que, caso algo possa realmente ultrapassar a velocidade da luz, então vai poder afectar pontos que se encontram, na realidade, fora do cone de acontecimentos, pelo que, na prática, esse ponto é afectado ainda antes de poder tomar conhecimento da causa. Ora, as experiências revelam que realmente é possível fazer um feixe de luz atravessar uma célula de tal forma que ela sai ainda antes de entrar, ou seja, durante o seu percurso, a luz andou mais rápido que a velocidade da luz no vácuo, tendo, pela minha forma de entender o assunto, andado para o passado, ou seja, saindo mais cedo do que devia.

Como disse, estas investigações foram feitas nos últimos anos, três se não estou em erro, mas recentemente alguém se lembrou de perguntar se seria possível transferir informação superluminal, ou seja, será possível enviar um sinal luminoso através desse tal meio e receber a informação ainda antes de ela ter sido enviada? A possibilidade parece ser totalmente paradoxal, mas a verdade é que os cientistas não sabiam como justificar a inexistência desse efeito após as descobertas anteriores. O que o estudo recente veio demonstrar é que, na realidade, a luz sai ainda antes de ter entrado, mas a recepção sofre uma demora extra para conseguir ser detectada, ou seja, a luz que contém a informação chega antes de ter entrado, mas o detector não consegue “ler” a informação antes de passar o tempo suficiente para essa leitura estar finalmente no cone de acontecimentos possível em relação ao seu envio. Desta forma pode-se afirmar que a luz realmente consegue andar mais rápido que a velocidade da luz no vácuo (mesmo eu ainda não sei como digerir esta parte), mas a informação nunca pode fazer o mesmo.

Incrível, não?

Escrito por Hugo S. @ 14:31