quarta-feira, julho 30, 2003

Razao Impura


Deus Omnipotente

Podemos ler no Einstein:

Certamente, ninguém negará que a ideia da existência de um Deus pessoal, omnipotente, justo e todo-misericordioso é capaz de dar ao homem consolo, ajuda e orientação; e, também, em virtude da sua simplicidade, acessível a mentes menos desenvolvidas. Por outro lado, porém, esta ideia traz em si aspectos vulneráveis e decisivos, que se fizeram sentir penosamente desde o início da História. Ou seja, se esse ser é omnipotente, então tudo o que acontece, inclusive as acções humanas, cada pensamento, cada sentimento e aspiração do homem seriam, também, obra Sua; nesse caso, como é possível pensar em responsabilizar o homem pelos seus actos e pensamentos perante esse Ser "todo-poderoso"? Ao distribuir punições e recompensas, Ele estaria, até certo ponto, a julgar-se a Si mesmo. Como conciliar isto com a bondade e a justiça a Ele atribuídas?

Quando falamos de Deus falamos antes de tudo de fé, não há outro modo de abordarmos o problema. Já aqui escrevi sobre a culpa a propósito da causa da culpa. Quando atribuimos a Deus qualidades morais fazemo-lo antes de tudo à imagem e na contingência do Homem e enquanto homem não é causador, não é omnipotente. Deus na ciência pode ser causa mas não é consequência.

Pensemos em termos lógicos. Imaginemos, acompanhando uma dedução válida, que na origem do universo há apenas uma e uma única proposição Pzero e que dessa, enquanto axioma, todas derivam segundo uma lógica de Deus desde o Inicio e pela Eternidade fora. Em cada instante há uma proposição Pagora que é a descrição do Mundo.

Vejamos o que diriam um crente e um ateu:

Ateu: O mundo é Pagora.

Crente: "No principio era o Verbo" o universo é de tal forma feito que em todos aqueles que alguma vez existiram Pzero é verdadeira.

Ateu: Há universos onde Pzero pode ter sido falsa. Deus pode não existir. Por isso não acredito nele.

Crente: Repara o que tu tens agora, tens o Mundo que dizes ser Pagora que é conforme e deriva do principio Pzero que Deus determinou para as coisas. Como podes não acreditar?

Ateu: Não, nada me leva a crer assim, eu posso ter neste instante um Mundo conforme e verdadeiro com Pagora que necessáriamente não deriva da tua tão querida proposição. Pode ter derivado de uma outra inicial, integralmente distinta mas também verdadeira: Pzerozero que seguiu a lógica perfeita do teu Deus. Como podes alguma vez saber se no Inicio Pzero foi verdadeira.

Crente: Não o posso, não sei se Pzero foi verdadeira no inicio, mas acredito nisso. É Pzero que o diz.

Ateu: É então Pzero a causa da tua crença, mas não a sua consequência, e enquanto tal nada dela podes inferir sobre o mundo. Pzero de nada vale.

Crente: Da mesma forma Pagora.

Ateu: Não! Sobre Pagora eu posso verificá-lo, agora.

Crente: Podes. Mas nunca saberás porque será verdadeira.

Ateu: É verdade.

Crente: Então porque acreditas nela.

Ateu: Porque acredito.

É este o caminho da ciência.
posted by Antonio @ 19:39